Maternidade e Prevenção do Suicídio

Setembro é o mês de conscientização e prevenção ao suicídio, através da campanha Setembro Amarelo. Segundo a OMS, uma em cada 100 mortes ocorre por suicídio no mundo. No Brasil, cerca de 12 mil pessoas tiram a própria vida por ano, quase 6% da população. Em mais de 90% dos pacientes que se suicidaram havia uma doença mental relacionada. Na grande maioria dos casos, o diagnóstico associado era de depressão. A OMS também afirma que o suicídio tem prevenção em 90% dos casos. Para o suicídio materno, não existem dados oficiais. Os profissionais de saúde devem ser capacitados para a identificação, avaliação, gestão e acompanhamento precoces de pessoas em risco.  

Prevenção ao suicídio no pós-parto: como reconhecer uma mãe precisando de ajuda.

Mesmo com o aumento do conhecimento sobre as dificuldades do puerpério, baby blues e depressão pós-parto, ter um filho ainda é considerado como um momento perfeito, de realização pessoal, em que a mulher está sempre feliz. A visão romântica pode fazer com que a mãe deixe de pedir ajuda quando sente que sua saúde mental está abalada. 

Discutir a saúde mental da mulher durante a maternidade e abrir espaço para que uma mãe que está sofrendo rompa o silêncio são os primeiros passos para diminuir os índices de depressão pós-parto. Ela é um dos principais fatores de risco para o suicídio materno.

Como flagrar o sofrimento 

Mesmo antes do bebê nascer, a saúde mental deve ser observada. As sutilezas continuam depois do parto. Diferente do que se pensa, nem sempre a mulher com depressão ficará mais distante do bebê. Essas alterações são muito individuais e podem ser imperceptíveis a quem está ao redor, por isso vale prestar atenção a outros indícios de depressão. São eles:

Perder o prazer em coisas e atividades que gostava antes

Tristeza excessiva

Falta ou excesso de apetite

Insônia ou sono excessivo

Desinteresse sexual

Alterações bruscas do humor

Deixar de ver sentido nas coisas

Choro constante

Tirar a prioridade de si e dedicar-se só aos outros, em especial ao bebê

Sentimento de que não se reconhece mais 

As alterações de humor e a falta de disposição/interesse são as evidências mais comuns – as outras nem sempre dão as caras. “O mais importante de tudo não é exatamente que sintoma aparece, mas a frequência do comportamento, atitude ou pensamento”, ensina Marcella Sandim, psicóloga especialista em saúde mental materna.

Como reconhecer o risco de suicídio

Os sinais são semelhantes aos da depressão, mas com algumas diferenças. “Uma coisa muito característica é fala do esgotamento, quando mente e corpo estão no limite e a mãe verbaliza isso”, aponta Marcella. Frases como “eu não aguento mais”, “eu já tentei de tudo”, “eu não consigo mais”, “eu quero sumir” são motivo para entrar em estado de alerta. 

Esse desejo de não viver pode se manifestar a nível físico: a pessoa começa a dormir demais ou usar substâncias lícitas, como álcool e medicamentos, e mesmo ilícitas. O comportamento pode ser de distanciamento das pessoas que ela ama, para evitar que elas sofram. “Ou, contrário, uma aproximação intensa de coisas e pessoas que ela gostou durante a vida, como uma despedida”, ensina Marcella. 

Antever o problema é importante. Por isso, fique atento aos fatores de risco, como ansiedade durante a gravidez, eventos estressantes, como a morte de alguém querido, divórcio, dificuldades financeiras ou perda do emprego. “Tentativas prévias, histórico familiar e outros transtornos além da depressão, como o bipolar, também devem ser levados em consideração”, destaca Helena Aguiar, psicóloga da Perinatal Barra, no Rio de Janeiro. 

Outros fatores como estar em um ambiente vulnerável, sofrer violências físicas ou verbais, não ter apoio do parceiro ou da família, além de sentimento de isolamento podem levar em casos extremos, à vontade de tirar a própria vida. “O suicídio é a consequência de algo que está acontecendo na vida da mulher, uma resolução para seus problemas”, aponta Marcella. 

Como ajudar

A estratégia mais certeira é oferecer à mulher um espaço de fala, onde ela possa expressar o que está sentindo e quais são suas dificuldades. Para que isso ocorra, é importante não romantizar a maternidade. Nem sempre a mãe consegue dividir suas angústias, e isso pode ficar mais fácil se a cobrança social sobre ela diminuir. 

E dá até para prevenir problemas emocionais e transtornos como a depressão. Existe o pré-natal psicológico, uma ferramenta de preparação da mulher. Mostrar a ela que não está sozinha, oferecer ajuda em tarefas e atender necessidades também ajudam a diminuir um pouco da sobrecarga dos primeiros meses. “Mas quando a pessoa próxima percebe um grande risco, é necessário encaminhar essa mulher para um profissional adequado”. 

Como procurar ajuda

Os especialistas comentam que o ideal é recorrer a especialistas que tenham conhecimento em saúde mental materna. O ginecologista também pode ajudar. “Há uma técnica para identificar de maneira rápida o risco de depressão pós-parto, que deveria ser usada por todos os ginecologistas e obstetras”, comenta Renata Pereira de Felipe, pesquisadora do Centro em Pesquisa Aplicada em Bem-estar e Comportamento Humano da Universidade de São Paulo (USP), citando a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo, um questionário simples, com 10 questões que avaliam os sentimentos e pensamentos recorrentes da mulher. 

Há também um papel importante das políticas públicas para melhorar o cuidado com as mães. “A falta de financiamento impede a realização de estudos que sirvam de base para estratégias efetivas”, conclui. 

O CVV – Centro de Valorização da Vida, oferece suporte para pessoas pelo telefone 188 ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar. O site também oferece um material bem rico sobre como ajudar alguém que pensa em suicídio.